João de Banda e a confusão com o Cônego José Paulino(1909).
Em 1909, o Cônego José Paulino da Silva se envolveu numa confusão com o cangaceiro João da Banda, chefe dum sub grupo do bando de Antônio Silvino. O fato é narrado por Ribeiro (2013), da seguinte forma:
Em 1909, o bandido João da Banda, chefe dum subgrupo do bando de Antônio Silvino acampara em Pocinhos na praça ao lado da igreja. Deve ter havido apreensão por parte do povo, mas não medo. Silvino era um cangaceiro atípico. Casado e dono de terras, adotara o banditismo por questão políticas, a pôr-se sempre a serviço de alguma facção em luta pelo poder evitava agir sem apadrinhamento. Seu grupo não costumava saquear nem roubar para obter dinheiro: sempre havia algum Coronel que os sustentasse e os aquartelasse. A quadrilha de Antônio Silvino costumava pousar na parte de Cabeça do Boi pertencente a Lauritzen, sendo comum sua passagem por Pocinhos. Assim, nem o povo, nem o subdelegado João Rodrigues estavam preocupados com a estadia de João da Banda. Mas, desta vez foi diferente João da Banda e seus cúmplices começaram a tocar e a dançar no horário da missa, a irritar o Cônego José Paulino, que nunca fora um homem calmo, o pároco se envolveu pessoalmente num bate-boca com o cangaceiro, sendo ameaçado de morte, o cônego, diante disto, pediu transferência, sendo de imediato atendido por D. Adauto. Antes do fim do ano era vigário de Arara e tinha recebido o título de monsenhor.
João de Banda morreu com seu irmão (Francisco de Banda) no Ceará em junho de 1913, após uma troca de tiros com as forças policiais daquele estado. Segundo o Jornal o Norte, os bandidos estavam acompanhados de uma mulher natural de Pocinhos.
Antônio Silvino Ataca Os Pocinhenses Manoel Tavares e Francisco Afonso (1910).
Em abril de 1910, Antônio Silvino quis castigar seu inimigo Manoel Tavares, morador em um sítio de Pocinhos. Manuel fugiu assim que soube que o cangaceiro estava a sua procura. Quando o bando chegou a sua casa, só encontraram sua esposa. Silvino poupo-a de qualquer agressão, mas mandou que ela avise ao marido que se mudasse da quele lugar em três dias.
Precisando de dinheiro. Antônio Silvino partiu para a casa de outro desafeto, Francisco Afonso, para roubá-lo. Afonso, sob ameaça, entregou o dinheiro. Antônio Silvino, temendo ser perseguido, cortou o fio telegráfico que ligava Pocinhos a Campina Grande em diversos lugares.
Assim verseja sobre o assunto o poeta Francisco das Chagas Batista em seu Poema ‘‘Antônio Silvino: Vida, Crimes e Julgamentos’’, publicado em 1930:
Fui, a dez de abril
Visitar um amigo.
Um tal Manuel Tavares:
Queria dar-lhe um castigo,
Mas ele fugiu ao ver-me.
Não quis se entender comigo.
Residia em Pocinhos
Esse que eu fui visitar,
Só encontrei sua esposa,
Por quem mandei avisar
Que só lhe dava três dias
Prá ele dali se mudar
-Hoje de muito dinheiro,
Então ei disse, preciso!
Depois de Manoel Tavares
Eu ter dado um prejuízo.
Ataquei Francisco Afonso,
Pretendi deixá-lo ‘‘liso’’.
O velho Francisco Afonso,
Que é ‘’caipira’’ verdadeiro,
Me disse – Eu não tenho um réis!
E eu disse: – O cavalheiro
Pagará com uma surra…
Nisto, ele deu-me o dinheiro.
Então no dia seguinte,
Quando eu deixei esses lares,
Ao arame telegráfico
Cortei em cinco lugares:
Fiz na linha o que não pude
Fazer com Manoel Tavares!
Antônio Silvino saqueia o povoado de Pocinhos e agride o Padre Antônio Galdino (1914)
A história diz que em 1914 o cangaceiro Antônio Silvino invadiu o pequeno povoado de Pocinhos, saqueou os moradores e agrediu o Padre Antônio Galdino.
O fato foi noticiado em vários jornais da época e também retratado por muitos cordelistas e poetas. Recentemente a história foi transformada no livro ‘‘O Padre X o Cangaceiro’’, de autoria do escritor Bismarck Martins de Oliveira, autor de vários livros que contam a história do cangaço.
Padre Antônio Galdino de Sales, nasceu em Alagoa Nova -PB, em 1872, e em 1898, aos 26 anos ordenou-se padre. A nomeação como pároco de Pocinhos ocorreu em 27 de julho de 1910. Assumindo a vaga do Cônego José Paulino Duarte, primeiro vigário da recém criada paróquia de Pocinhos. E que como vimos anteriormente, pediu a sua transferência ao Bispo Dom Adauto, após ser ameaçado por cangaceiros de Antônio Silvino.
Padre Antônio Galdino
Cangaceiro Antônio Silvino
O seque ao povoado de Pocinhos e a agressão ao padre Antônio Galdino, aconteceu no dia 18 de novembro de 1914, por volta das 19h.
Segundo relatos, após invadir a vila de Pocinhos, os cangaceiros prenderam o padre que estava na casa paroquial e o levaram para igreja, onde também foram levados vários moradores (fazendeiros e comerciantes).
Dentro da igreja, todos foram ameaçados e saqueados pelos cangaceiros. Além disso, o padre foi agredido e obrigado a servir uma refeição aos criminosos. Só a meia-noite os bandidos liberaram os moradores e abandonaram a vila42.
Momentos depois da retirada do bando, o padre, ainda insanguinato, fez soar o sino da igreja, repicando o tradicional toque fúnebre, ao passo que o cangaceiro entendeu que estava sendo amaldiçoado pelo cônego43.
Coincidência ou não, nove dias depois do ocorrido na vila de Pocinhos, o Cangaceiro Antonio Silvino foi preso pelas tropas do major Theophanes Ferraz, comandante das tropas oficiais da polícia pernambucana, na cidade de Taquaritinga-PE, e transferido para a Casa de Detenção do Recife, onde cumpriu mais de 23 anos de prisão.
O cordelista Francisco das Chagas Batista, também registrou o fato ocorrido em Pocinhos. Eis o trecho em questão:
Aos dezoito de novembro
Eu em Pocinhos Cheguei;
Que o Padre Antônio Galdino
Desse-me um jantar, mandei;
E que me servisse à mesa
Ao mesmo padre obriguei.
Ao retirar-me, esse padre
Lançou-me a excomunhão,
Missa de corpo presente
Cantou em minha tensão
Na noite do mesmo dia
Me apareceu uma visão.
Eu estava em uma casa
Jogando bem descuidado
Quando apareceu-me um homem
Com um objeto embrulhado;
E me disse: – Eis um presente
Que para si foi mandado.
Ergui a vista, porém,
Já o homem não avistei;
Abri o pacote, e dentro,
Um par de algemas achei;
Fiquei tão impressionado
Que ali quase me assombrei!
Compreendi que o padre
Botara-me urucubaca!
A estrela que me guiava
Via-a no céu mais opaca;
De minha vida a corrente
Conheci que estava fraca.
Na manhã do outro dia
Eu na estrada encontrei
Com o boi de Cristiano;
Bem à testa lhe atirei;
Visto não pegar o “gringo”
No boi dele me vinguei.
Depois de andar oito léguas
De onde o boi tinha ficado,
Debaixo de um umbuzeiro
Sentei-me um pouco enfadado,
Quando vi chegar o boi
No qual eu tinha atirado.
Esbarrou perto de mim
Ameaçando me dar,
Chegou esvaindo em sangue
E dando para urrar;
Como quem vinha somente
Para de mim se vingar.
Quando vi aquela cena
Perdi logo a esperança;
Conheci minha vida
Estava numa balança;
O urro do boi dizia
Meu sangue pede vingança!
Conheci que aquele boi
Da morte era o mensageiro;
Quis atirar-lhe, e meu rifle
Mentiu fogo; então ligeiro,
Me retirei e não quis
Que o matasse um companheiro.
Francisco das Chagas Batista nasceu na Vila do Teixeira no dia 05 de maio de 1882. Ativo e empreendedor, ele foi um dos primeiros editores de cordel e imprimiu produções de muitos poetas populares da época. Morreu no dia 26 de janeiro de 1930.
Fonte:
ARAÚJO, Carlos Eduardo Apolínário. Retalhos Históricos de Pocinhos: Histórias que transcendem o tempo. Pocinhos-PB: I9 Comunicação, 2020, pp. 81-85.
RIBEIRO, Roberto da Silva. Pocinhos: O Local e o Geral. 2ª Edição. Campina Grandeo: RG Editora, 2013.
Jornal O Norte. Paraíba, 07 jun. 1913.
Oliveira, Bismarck Martins. O Padre X o Cangaceiro – 28 de novembro de 1914 (A última passagem de Antônio Silvino por Pocinhos – PB). João Pessoa: Mídia Gráfica e Editora Ltda, 2019.
Padre Dezenilton da Silva Santos. Texto sobre a história e as potencialidades turísticas de Pocinhos. Pocinhos, 16 mar. 2021. Facebook: dezenilton.silvasantos.Disponível em: https://www.facebook.com/dezenilton.silvasantos/posts/3986582511388820. Acessado em: 20 mar. 2021.
BATISTA, Francisco das Chagas. Antônio Silvino: Vida, Crimes e Julgamentos. 1ª Edição, 1930.