O Sisal em Pocinhos

O Sisal em Pocinhos

O cultivo do sisal começou a ser introduzido em Pocinhos ainda no início da década de 40, graças a Padre Galvão, que foi um dos grandes incentivadores dessa nova cultura no distrito, e que pouco tempo depois, transformou-se no ouro verde da região, dominando toda a paisagem.

Nada melhor do que o próprio Padre Galvão para conta como foi a introdução do sisal em Pocinhos, através de suas anotações no livro tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Pocinhos (folhas 51 e 52).CU

"...Eis porque, empenhei-me denodadamente em prol do plantio do agave, na minha paróquia por estar certo que esta era uma planta que se alimenta da humidade do ar, como o caroá, resistindo as maiores secas. Consegui no Fomento Agrícola Federal, 100.000 mudas, transportadas para o agricultor de minha paróquia em caminhões do próprio Fomento. Assim quero declarar á Posteridade que os primeiros pés de agave ou sisal, plantados no distrito de Pocinhos, foi por minha iniciativa. Fiz a campanha do agave, servido do próprio púlpito da igreja Paroquial e das Capelas, incentivando o povo para o ciclo do agave que haveria de trazer uma revolução econômica nesta região. O fato é que graças a Providencias os frutos dos meus trabalhos já estão sendo colhidos e Pocinhos no presente, economicamente falando, é um lugar próspero, onde o dinheiro circula em quantidade e o povo em geral tornou-se mais civilizado, não só pela edificação de imensas fábricas de desfibramento, pelos seus lares que são transformados para melhor, onde existe conforto, como pelo cuidado que têm os agavieiros enviando os seus Filhos para se educarem em Colégios e Faculdade superiores, em centros mais civilizados."

Segundo o pesquisador e escritor Bismarck Martins de Oliveira, dentre os pioneiros sisaleiros de Pocinhos, pode-se destacar: Ottoni Barreto Serrão; José Tomé Filho; Cícero Canuto de Araújo; Luiz Cavalcante Ribeiro; Antônio Galdino de Araújo; Adauto Rodrigues Pereira; José Avelino da Silva; José Victor Ferreira; José Odilon de Brito; Padre Galvão; Cazuzinha Souto; Venâncio Pedro Apolinário; José Martins de Oliveira; os irmãos Sebastião, Manoel e João Agripino dos Santos; Apolônio de Melo; Luís Paulino da Costa; Sebastião Manuel dos Santos (Sebastião Grande); Artur Porto; João Virgínio de Araújo; e, Pedro Ferreira de Melo. 

Cultivo do sisal no sítio Cabeça do Boi em Pocinhos. Fotografia da década de 1960, pertencento ao acervo de José Alves.

Ainda na década de 1940, foi construiu no sítio Olho D’água em Pocinhos, a maior usina de desfibragem de sisal do nordeste, a Ottoni e Cia.

Vale salientar que nessa época, não existiam ‘‘motores’’ de agave, a folha da planta era cortada nas plantações e enviadas in natura para as usinas onde era desfibrada.

A Ottoni e Cia chegou a processar doze caminhões de sisal por dia. A usina era um verdadeiro complexo industrial com uma usina bem equipada (com grande esteiras, prensas, estaleiros, etc) armazéns, oficinas, reservatórios d’água, vila operária, escola, mercearia, igreja, entre outros.

Armazés da Ottoni e Cia. Fotografia de 1953. Acero Museu Virtual de Pocinhos.

O ciclo do sisal garantiu durante mais de trinta anos milhares de empregos à população e conduziu Pocinhos para a 18ª posição em arrecadação de renda em todo o Estado.

O pesquisador Gerard Prost, descreve Pocinhos com entusiasmo:

"...O sisal fez de Pocinhos, entre outros centros urbanos, uma verdadeira pequena cidade, que não é mais um simples povoado de casas de taipa, sem forma e sem vida. As casas aqui são claras e agradáveis. O refrigerador melhorou grandemente as condições de existência. A vida da rua mudou também, a praça se tornou um foco de vida noturna para jovens e adultos, que passeiam e que vêm tagarelar. Os cafés, o bilhar, as lojas que ficam abertas até muito tarde atraem muita gente. E o cinema funciona quatro dias por semana!."

Infelizmente a partir da década de 70, o preço do sisal no mercado internacional teve uma forte redução desestimulando os produtores e provocando uma situação calamitosa aonde a cultura sisaleira foi diminuindo a cada ano.

Um fator que contribuiu consideravelmente para esse quadro de decadência econômica da cultura sisaleira foi o surgimento da fibra sintética de origem petroquímica(náilon), mais barato e resistente.

Baseada em estudos colhidos na secretaria da agricultura, indústria e comércio do Estado da Paraíba e na Comissão estadual de planejamento agrícola- CEPA, SARAIVA afirma que o abandono dos campos de sisal  chegou ao tonos de 60%.

Vale resaltar que além da concorrencia com os produtos derivados do petróleo, o sisal disputava também o mercado com outra fibras naturais produzidas no Brasil e em vários outros paises. E para piorar a situação o banco do Brasil suprimiu a assistência á cultura e a Comissão de Financiamento da produção excluiu o sisal da pauta dos produtos beneficiados pela política de preços mínimos.

Conheça um pouco mais sobre a história de Ottoni Barreto Serão. Clique Aqui.

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Fonte:

Oliveira, Bismarck Martins de (Texto para o Livro ‘‘Pocinhos, 300 anos de sua história).

ARAÚJO, Carlos Eduardo Apolínário. Retalhos Históricos de Pocinhos: Histórias que transcendem o tempo. Pocinhos-PB: I9 Comunicação, 2020, p. 95.