Em 1877 a Paraíba e todo o Nordeste é atingido pela maior seca de todos os tempos, a “setenta e sete tirana”, responsável por milhares de mortes.
O fenômeno também gerou uma grande migração: 120 mil nordestinos fugiram para a Amazônia e 68 mil partiram para outros estados brasileiros. O governante na época, o Imperador dom Pedro II, visitou o Nordeste e prometeu vender até a última jóia da Coroa para amenizar o problema. Porém nada fez.
Jornais da época, como A OPINIÃO, descrevem o sofrimento dos flagelados nas cidades superlotadas:
Os sertões estão ficando desertos pela emigração para os brejos, impelida pela sêcca, a procura de recursos para manter a própria vida; e nos brejos surge a miséria pela superabundância de emigrantes que tudo precisão, e nada conduzem. E a safra dos gêneros alimentícios é diminuta para o grande e inesperado aumento da população33.
No mesmo informativo, a 23 de dezembro de 1877, foi publicado:
A sêcca lança a consternação no seio de todas as famílias, e os criminosos e desordeiros roubam o que ainda nos resta, mesmo a honra e a própria vida. Em todas as ruas veem-se cadáveres ambulantes e nús sem forças para implorarem uma esmola; e a morte tem arrebatado muitas victimas da secca. Tudo é contestação, miseria e desespero.
Em pocinhos, metade das órfãs da casa de caridade morreram após comer carnes podres, como descreve o jornal Estado da Parahyba:
A casa de caridade da povoação de Pocinhos, instituida pelo padre Ibiapina, tinha então mais de 70 órfãs, e extinto o seu patrimônio, que era uma fazenda de criação, veio a sofrer tanta fome, que as miseravéis órfãs, a exemplo de outros famintos, por alguns dias sustentaram-se com a carne putrefata das rezes que morriam fracas pelas estradas. O resultado não se fez esperar, a peste desenvolveu-se logo com maior fúria, reduzindo o pessoal do pio estabelecimento a menos da metade, e ceifando numerosas outras vidas da população da localidade.
Ainda segundo o jornal Estado da Parahyba, era comum o envenenamento por maniçoba e outras plantas tóxicas que os famintos comiam em desespero.
Era muito comum o envenenamento por meio de mucunan, peto, colé, maniçoba e outras plantas tóxicas de que usavão como sustento o povo faminto, affirmando, entretanto, muitos que ellas só erão nocivas quando não comião com rapadura.
Fonte:
Jornal A Opinião, 1877.
O Estado da Parahyba: Periódico Político, Social e Noticioso – Orgão Republicano, 27 nov. 1891, p. 1.
RIBEIRO, Roberto da Silva. Pocinhos: O Local e o Geral. 2ª Edição. Campina Grande: RG Editora, 2013, p. 73.
ARAÚJO, Carlos Eduardo Apolínário. Retalhos Históricos de Pocinhos: Histórias que transcendem o tempo. Pocinhos-PB: I9 Comunicação, 2020, pp. 66-67.