O jornal “Gazeta do Sertão” foi o primeiro semanário de Campina Grande, com orientação eminentemente democrática. Fundado por Irineu Ceciliano Pereira Jóffily e Francisco Soares da Silva Retumba Filho, o seu primeiro número circulou em 1º de setembro de 1888. O chefe da oficina era o experiente Tito Henriques da Silva. Sua primeira tiragem foi de 800 exemplares, e o escritório funcionava na Praça Municipal nº 21, ao lado do Açude Velho.
O periódico fazia a crônica social e política da cidade, denunciava perseguições, ameaças e violências, hasteando com toda a imponência a bandeira do partido que apoiava. Era este o único órgão de oposição aos governos municipal e estadual de sua época.
Os números da Gazeta eram impressos às sextas feiras e apareciam aos sábados, que era o dia de feira. Da Capital da Província, do Recife e de todo o sertão paraibano, até Cajazeiras, vinha colaboração para a Gazeta.
Primeira página do primeiro exemplar do Gazeta do sertão - 01-09-1888
Insatisfeito, o chefe da Intendência Municipal de Campina procurou por todos os meios fechar o jornal, acusando-o de sonegação fiscal. Um mandado de prisão contra Jóffily chegou a ser expedido. Não o prenderam, mas deram uma surra em um dos seus moradores.
No Recife Irineu conseguiu uma ordem de Habeas corpus. Contudo, foi vencido a 06 de maio de 1891, quando se deu o “empastelamento” da sua imprensa. Sentindo-se inseguro, refugia-se na Capital Federal onde trabalha como revisor do Jornal do Comércio.
O motivo do fechamento do jornal seria uma letra sacada pela Câmara Municipal e endossada por Irineu no valor de 350$000, que havia sido paga, porém, extraviada, veio a cair em mãos de um negociante da cidade. E apesar de se oferecer diversos bens imóveis à penhora, estes foram dispensados, declarando os meirinhos que “só tinham ordem de tomar a tipografia”.
Comentando a respeito na ERA NOVA – órgão católico pernambucano -, Jóffily desabafa:
“Não tenho credores, nunca devi e nem devo a pessoa alguma. Todos os que me conhecem sem exceção attestão isto mesmo. Só no termo de Campina Grande, onde moro, possuo diversas propriedades urbanas e ruraes de mais de uma dezena de contos além de bens semoventes” (O Brasil: 03/06/1891).
No Rio a notícia de seu fechamento era publicada como verdadeiro atentado:
“Na Campina Grande, Estado da Parahyba, o Sr. Irineu Joffily mantinha uma folha de opposição, a Gazeta do Sertão, que não poude escapar às vistas paternaes da satrapia do estado autônomo. A typographia em que se imprimia esse órgão opposicionista foi, em noite de 6 de maio, arrombada e occupada pela força pública”.
“Hoje, 6 de maio de 1891, foi esta cidade testemunha de um acto brutal, o arrombamento das portas da typographia da Gazeta do Sertão, feito pela força pública, na ocasião em que se imprimia o mesmo jornal; e coagidos pela mesma força abandonarão o seu director e typographos a referida officina, ficando Ella à disposição dos invadores”.
Com efeito, a última edição da Gazeta sequer fora concluída. Impressa de um único lado, onde publicara um manifesto contra o governo Venâncio Neiva, achava-se no verso, escrito a mão, a seguinte justificativa:
“Ia a imprimir-se esta pagina quando foi assaltada e tomada a nossa typographia por soldados de polícia”.
A Gazeta então havia sido reduzida a um amontoado de ferro, chumbo e tinta.
Primeira página do último exemplar do Gazeta do sertão - 06-05-1891
Fonte:
Carlos Eduardo Apolínário Araújo. Pesquisador, autor do livro “Retalhos Histórico de Pocinhos”, do documentário “Pocinhos: Origens da Municipalidade” e criador do “Museu Virtual de Pocinhos”.